9 de abr. de 2011

Por Elisa Oswaldo-Cruz Marinho

EXPERIÊNCIA INACREDITÁVEL: ONDE É QUE VALE O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE?

Fui ao Cinema São Luiz no domingo, dia 3 de abril, às 18:30, com meu filho adulto e a namorada para ver um filme, que estava lotado. Para não perder a viagem, resolvemos ver outro, sabendo que não devia ser grande coisa, mas como era em 3D e tinha um bom protagonista, talvez servisse como diversão. O nome já sugeria violência: Fúria sobre Rodas.Ainda demos uma chance, achando que podia ser um filme estilo Tarantino, com violência explícita, mas com algum propósito e requinte. Ledo engano.

Embora o filme não fosse recomendado para menores de 16 anos – aliás, não recomento nem para maiores -, exatamente na nossa frente estava uma “mãe” com um menino de uns cinco anos, acompanhados de outras pessoas. Durante os trailers o menino falou bem alto: “Mãe, tenho medo de monstro!”, e o cinema todo riu, inclusive eu. No entanto, quando o filme começou, a primeira cena era alguém levantando a mão e levando um tiro que fez a mão ser arrancada e voar em direção a nossa cara – em 3D -, acompanhada de esguichos de sangue. O garoto começou a chorar e, numa demonstração de bom senso, pediu: “Quero ir embora!” Qual não foi nossa surpresa, então, ao ouvir a mãe dizer: “Cala a boca!” e continuar vendo o filme

Não pude ficar quieta. Falei alto: ”Vai embora, esse filme não é pra criança!” e a moça que os acompanhava falou: “É que ela não sabia que o filme era assim...” Eu respondi: “Tudo bem, mas agora já sabe e o menino está chorando, vai embora!” Aí a “mãe” vira-se pra trás e diz:”Não se mete” e eu respondo “Você não tem responsabilidade pra ser mãe, isso é abuso infantil, vou chamar o Juizado de Menores”, ao que ela retrucou “Então chama!”

A essas alturas, meu filho – de 25 anos e não de cinco – já tinha se levantado pra chamar o gerente e eu fui atrás. Quando cheguei lá fora ele vinha com o gerente e eu disse: “Tem uma mulher com uma criança chorando e querendo ir embora, vocês não vão tomar uma atitude? Como essa criança entrou nesse filme?” O gerente me respondeu que, infelizmente, ele não podia fazer nada porque a “mãe” havia “se responsabilizado” pela entrada da criança. Que lei é essa? Como é que é isso? Se uma “mãe” ou um “pai” se “responsabilizar” por entrar num filme pornográfico ou de extrema violência com uma criança, PODE? Cadê o Estatuto da Criança e do Adolescente?

Nesse momento, a “mãe” saiu do cinema com o pobre do menino - olhões arregalados - e foi direto reclamar com o gerente, dizendo que tinha perguntado na bilheteria se o filme “dava” pro garoto ver e tinham dito que sim. Mas essa era a preocupação dela – ter o dinheiro de volta, no que ela não está errada. Errado está o cinema em deixar uma criança entrar num filme trash de apologia à violência e a mãe, evidentemente, em não atender ao apelo da única criatura com bom senso nessa história – a criança. Mas se existe relamente uma lei que diz que o adulto pode se responsabilizar pela criança numa circunstância como essa, será que essa lei prevê casos como esse? Não seria o caso de reavaliá-la e inserir alguns outros parâmetros?

Pode ser que eles tenham, como nós, ido ao cinema para ver outro filme – próprio para crianças – e não tenham conseguido entrar, então tentaram outro. Não sou a favor da censura, mas a favor do bom senso. Num caso como esse, se a gerência do cinema não o teve, em prol de arrecadar mais uns caraminguás, nem a “mãe” do garoto, criatura abusadora, sem consciência nem preparo para o papel de mãe, querendo que a criança visse aquilo porque ela queria se “divertir”, quem deveria proteger essa criança?

Quando os adolescentes manifestam violência e desequilíbrio, todo mundo quer saber por que. Jovens despreparadas engravidam e criam seus filhos de qualquer jeito, sem noção da responsabilidade e das conseqüências para a cabeça da criança daquilo a que ela é exposta na infância. Provavelmente foram abusadas e replicam o abuso com seus filhos. Aí está um exemplo de como se formam esses jovens, que depois serão julgados como “casos perdidos”...  E eu me arrependi amargamente de ter entrado naquele cinema. Saí mal, por não conseguir avaliar o que foi pior: o filme ou a inacreditável experiência. Pelo menos, serviu pra poupar o menino...se é que ele ainda não levou uns cascudos por ter chorado...


Elisa Oswaldo-Cruz Marinho
Editora do Núcleo de Comunicação da Academia Brasileira de Ciências
Mãe de dois filhos

2 comentários:

  1. Nossa, a Elisa é realmente demais! Duvido que outra pessoa se levantaria e interromperia sua diversão (ou não, no caso desse filme em especial) para reclamar dessa cena repudiante.

    Acho um absurdo ver crianças pequenas vendo filmes com essa quantidade de violência. Alguma pessoas não nasceram para ser pais e infelizmente não existe ainda uma forma de impedir esse tipo de gente de ter filhos.

    E ainda tem coisas piores, quando a bilheteria do cinema venda ingressos para crianças um pouco maiores (digo com uns 12 ou 13 anos) sem nenhuma culpa. Acho que os cinemas deveriam ter um esquema melhor para coibir a venda ou a entrada de crianças em filmes não apropriados para elas.

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  2. Exatamente. Mas eu acho que o mais importante, aicma de tudo, é a presença e preocupação dos pais. Eu fico muito triste por tantos deles ficarem omissos em relação aos seus filhos.

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