Uma criança disparou pela padaria portas à dentro. Ansiosa por algo: olhinhos perscrutando cada centímetro, cada cantinho da bancada de doces. Eu, na minha calma, chegaria ao meu destino como uma rainha, prazerozamente, majestaticamente (muitos sic). Ela, impestuosa criatura, avistou um pão doce, rechonchudo, fonte de prazer, delícia perigosa. Eu, alcancei sem preeeessa alguma o meu humilde pedaço de bolo de limão, camada tripla, com uma calda ariana danada de dengosa. O pão doce, o bolo de limão, lado a lado, cúmplices de padaria, entregues ao destino de serem somente vítimas da gula, do desejo, da gostosura, do colesterol alto: da eterna felicidade. Separados, ali, na derradeira cumplicidade. Ela, ali na fila, parada logo em minha frente, olhou para o balcão, com outros docentos doces:
- Moço, quanto tá o beijin'?
- ér doce moça, tudo doi zi cincuenta.
Preferiu resguardar seu pão doce. Santa criança! Me lançou um feitiço ao qual não pude resistir. Pensei: "Será que levo mais um bolo? Não precisa ser de limão! Tem o de morango... HÁHÁHÁ". Mas não... permaneci dura, acreditando no prazer que aquele único bolinho iria me proporcionar.
Minutos mais tarde, a criança já tinha pagado sua conta e eu me dirigia para o lado de fora da paradia. Pensando em chegar em casa, abrir o faqueiro e meter bala. Eis com quem me deparo? COM A CRIANÇA! A danada já tinha aberto o pacote de seu pão e já tinha as insaciáveis mãozinhas na boca com pão e tudo! Puta que pariu... olha o dilema. Olho pro pão, olho pra criança e penso: é aqui, é agora? Na racha?! Na munheca?! Mas não, permaneci sólida em minha virtuosa espera. (Afinal era só atravessar a rua e pegar o elevador)
Sorri. Porque poucas pessoas sabem reconhecer a virtude de ser uma eterna criança.
A criança era uma senhora. Cálida e inocente. Linda em sua juventude.
A criança é você e o eu-lírico é um alguém qualquer! rsrsrs
ResponderExcluirTexto muito fofo, amiga! :)